segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

“Quase famosos: a visão de Cameron Crowe sobre a geração sexo , drogas e rock n roll”, por Alan Campos



Cameron Crowe tinha 15,16 anos quando viajou e entrevistou  bandas como “The Who”, “ Led Zeppelin” , “ The Eagles” numa época onde astros de rock eram tratados como deuses reencarnados na terra. Suas experiências como jornalista musical o levaram a criar esse filme otimista e nostálgico retratando o inicio dos anos 70, nem sempre de uma forma 100% realista com o que aconteceu.

O filme narra a história  de William Miller [baseado em Cameron Crowe] mostrando o momento em que ele “descobre o rock”, o olhar do garoto para um serie de discos de rock é o mesmo olhar de fascinação que temos ao observar algo proibido, ate o momento em que ele é contratado para seguir em tour com uma banda em ascensão. Mentindo sobre a idade William aceita viajar com a banda e depois escrever um artigo sobre ela na famosa revista “ Rolling Stone”. Ao longo de sua viagem, William é familiarizado com o mundo de uma banda de rock. Isso inclui brigas e groupies.

O filme é narrado de forma linear, não é um grande marco nas cinebiografias de rock nem possui um conceito ou montagem diferente como o filme de Todd Haynes “Não estou La” baseado em Bob Dylan. O filme é  como Crowe  se lembra desse período. Bastante nostálgico, ele relembra suas memórias com saudade, sentindo falta desses tempos. Apesar dele levar em consideração o senso critico do espectador em relação aos eventos retratados no longa, ele opta por encobrir fatos e “maquiar” um pouco como era a vida dos grandes astros de rock setentistas.

O diretor opta pelo uso de planos subjetivos, fornecendo ao espectador sempre os fatos vistos sobre a perspectiva de William; o filme tem um “ar” de idílico e inocente pois é a representação da visão do protagonista. Cameron Crowe ignora os fatos mais obscuros dessa geração como o uso de drogas pesadas pelos membros das bandas e como isso foi o motivo das mortes de muitos jovens dessa geração; o uso de drogas é raro no filme e não há indícios de vicio.

Em minha análise esse é o maior erro do filme, o fato dele permanecer somente numa “Nostalgia sentimental” e não uma “Nostalgia reflexiva”. Crowe não se propõe a analisar os erros dessa geração, não aponta as falhas; sua câmera nostálgica ignora a maioria dos problemas de uma vida na estrada como a depressão por estar sempre longe de casa e uso de drogas pesadas e suas conseqüências. Em vez disso ele filma como uma espécie de contemplação ou ode aos anos 70, por isso os personagens são caricaturados, barba e cabelos grandes, roupas extravagantes e o senso de “a festa nunca acaba”. A fotografia de John Toll é mais “colorida” do que o normal representando o encantamento que William sente ao encontrar roqueiros e fãs num show.

Muitas das cenas do longa  são baseadas em acontecimentos reais a frase “”Eu sou um deus dourado!!!” dita pelo guitarrista da banda Stillwater, a banda que William acompanha, teria sido dita por Robert Plant,vocalista do Led Zeppelin, num hotel na California. O incidente com o avião aconteceu com a banda The Who durante uma excursão pelos EUA. Isso somado com o fato  da trilha sonora ser bastante variada contando com clássicos do rock prova que Cameron Crowe está mais interessado em reforçar os mitos criados em torno dos roqueiros da década de 70 do que em analisá-los criticamente.

Com cada vez mais filmes sendo feito com historias ambientadas no passado e tendo uma analise critica, “quase famosos” não se enquadra neles ficando na categoria dos filmes saudosistas, feitos para aqueles que amam o período retratado. Ele sofre por não mostrar a “visão geral” de seu tema como a parte de “Forrest Gump” ambientada no Vietnã, ou seja, existe uma ingenuidade na e a preferência por ocultar detalhes.

Entretanto, toda a historia é vista sob o ponto de William, que era inocente para o mundo do rock. O filme mostra somente o que William viu e não é de interesse do diretor demonstrar negativismono filme. Isso pode servir de desculpa pelo fato da obra não apresentar maior profundidade. Tirando essa única falha, “Quase famosos” é um ótimo filme, um retrato nostálgico de uma época de ouro para seu diretor, e para fãs do rock. Ótimo rock n roll e uma historia de amadurecimento.

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